Dobra-ares
- Gabriella Egavalle
- 8 de fev. de 2020
- 1 min de leitura
Atualizado: 19 de abr.
Nos diários de outros escritores me consola ler suas confissões acerca de não terem escrito nos últimos dois, três dias. Kafka tem más justificativas bem escritas: "7 February. Complete standstill. Unending torments." Sentei-me à mesa há exatas oito horas. Nos últimos dois, três dias, movi montanhas com minha fronte dobra-ares, ordenhei o mundo por libras. Após quarenta minutos à espera de ser atendida na delegacia de Islington, bati a cabeça no vidro; uma demonstração de imprevisibilidade animal que não deu em nada. Tenho andado em média dez quilômetros cada dia, só ontem quinze. Pra cima e pra baixo vai o vento me empurrando pelas ruas, vou chapéu mas com os pés em botas confiáveis, e ninguém tropeçou em mim. Ah, mas hoje um amor antigo ousou dizer: "Tomo logo esse chapéu e jogo na água". Deprimiu-me, o que me fez encolher e dormir rendida. Mas ainda a tempo da noite acordei, fui dançar na cozinha. Agora a vela azul treme na garrafa, o apartamento da minha amiga ausente cheira a jasmim e a rua finalmente está vazia, duas e meia da manhã, quando começo: fontes viscerais e um plateau limoso... O que começou: uma chuva. Apenas relato, apenas relatei, apesar de não ter a intenção de meter aqui nesta coluna de rapina todos os meus relatos. Inicialmente eu planejava escrever sobre o real-visceralismo em Mark Kozelek (2018), Mark Kozelek.
Commenti